Curry Cabral [1898/1900]
- Detalhes
- 18-01-2013
A hospitalização em Lisboa foi sempre difícil com várias fases de agravamento que o Hospital de São José, apesar dos sucessivos Anexos não conseguia debelar. Foi nestas tarefas quase ciclópicas que a personalidade do Professor Curry Cabral se evidenciou como um notável administrador hospitalar. O período de 1901-09, que corresponde ao mandato de Enfermeiro-mor, é uma fase de grande brilhantismo na vida hospitalar lisboeta. Já antes Curry Cabral era conhecido como dedicado colaborador da Rainha D. Amélia na luta contra a tuberculose e um reputado cirurgião e professor distinto de Medicina Operatória na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.
Curry Cabral organizou os serviços de higiene hospitalar com fornos de incineração, procedeu à fiscalização rigorosa dos géneros alimentícios, criou o Laboratório de Análises Clínicas no Hospital de São José, organizou a estatística hospitalar e correlativo boletim, e criou a Escola de Enfermagem. Devem-se-lhe ainda a construção dos novos edifícios do Hospital de Santa Marta, destinado a doenças venéreas e sífilis, e do Hospital do Rego onde se instalaram as doenças infectocontagiosas febris, aumentando a capacidade dos Hospitais Civis para mais de 1200 doentes. Ao Hospital do Rego foi, mais tarde, atribuído o nome de Curry Cabral como seu patrono.
Teve atritos com a Escola Médica pela decisão de suspender o internato nos hospitais e de cercear a livre movimentação dos alunos nas enfermarias. A austeridade da sua vida e a probidade do carácter granjearam-lhe grande número de admiradores mas também tenazes inimigos que rejubilaram com a demissão compulsiva que lhe foi imposta após a revolução de 1910.
Sousa Martins [1897]
- Detalhes
- 18-01-2013
Foi na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa que Sousa Martins se licenciou e desempenhou as funções de professor de Patologia Geral e de História da Medicina.
Mais de cem anos depois da sua morte (1897) a recordação do prestígio do clínico e do professor mantém-se intacta. O culto que lhe é tributado, junto do monumento erguido no Campo Santana em sua homenagem, congrega numerosos devotos.
No dizer do Professor José António Serrano «a cátedra fê-lo grande, as foi a clínica que o consagrou». O volume In Memoriam que lhe foi dedicado encerra numerosos testemunhos que enalteceram a sua vida e obra, e a imensa afabilidade para com os discípulos e os doentes.
Sousa Martins foi Presidente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa em 1897. A Sociedade constituiu ao longo de anos o grande palco onde o talento e a eloquência de Sousa Martins se patentearam perante um auditório ávido de o escutar e ver.
A eloquência tribunícia de Sousa Martins – «o espectáculo verbal da sua palavra e as entoações discursivas eram semelhantes a uma cachoeira, que só pode imaginá-la quem a presenciou» – no dizer de Bettencourt Raposo, seu amigo, colega e admirador.
José António Serrano [1895/1896]
- Detalhes
- 18-01-2013
José António Serrano tem sido unanimemente considerado um excepcional anatomista e um escritor vernáculo da língua pátria: numa síntese, um exímio escritor da Ciência. O seu Tratado de Osteologia é considerado uma monumental obra de rigor na observação, na descrição e no prodígio do estilo literário.
Serrano foi cirurgião distinto, com longa prática e pioneiro entre nós da histerectomia abdominal por mioma uterino, aplicando, precocemente, para benefício da sua arte, as doutrinas de Pasteur e a prática de Lister. Foi ainda o pioneiro do tratamento do mixedema com recurso a enxerto hipodérmico heterólogo (carneiro).
Bibliófilo médico e literato, espelho de modéstia, foi um homem austero mas muito admirado e amado pelos estudantes.
Foi um muito ilustre Vice-Presidente da Sociedade, nunca aceitando ser Presidente, apesar de muito instado, e não obstante haver sido um excepcional 2.º e 1.º Secretário. Poder-se-ia especular se essa recusa não corresponderia a uma certa retracção a abrir-se ao social, como o caracterizava Miguel Bombarda, querendo manter-se sempre num apertado círculo de ciência e de estudos anatómicos.
Falecido prematuramente, com 53 anos, no auge das suas faculdades intelectuais, adivinha-se quão vasto património científico e cultural terá ficado por criar.