Silva Amado [1883/1885]
Órfão de pai aos três anos, a infância de Silva Amado foi dificultada por carências económicas que um subsídio do Rei D. Pedro V suavizou, ao permitir-lhe a frequência dos estudos superiores. Na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa foi um estudante laureado, concluindo a licenciatura com elevadas classificações.
Nomeado Professor substituto da Secção Cirúrgica da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, atingiu o posto de Lente da Anatomia Patológica e Partos em menos de dois anos. Transferiu-se então para Lisboa onde a sua intensa actividade e reconhecido prestígio levaram a que, pouco tempo depois, fosse nomeado Lente de Medicina Legal e Higiene, cadeiras que vieram a ser separadas em 1900. Silva Amado fez a opção pela Medicina Legal, dedicando-se à tarefa pesadíssima de dar execução à Lei de 1899, que criou os Serviços Médico-Legais.
Pela tenacidade e obra realizada no campo da Medicina Legal, Silva Amado é considerado o reformador desta cátedra na Escola de Lisboa, a qual se projectou no país e estrangeiro, em especial quando encontrou, em 1904 um colaborador precioso, o Professor Azevedo Neves, que lhe veio a suceder.
Silva Amado tem obra valiosa publicada nos campos da higiene pública e ciências forenses onde é uma figura de referência na História da Medicina Portuguesa.
Alves Branco [1881/1883]
O Dr. José Maria Alves Branco foi o 21.º Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, em cuja Escola Médica se licenciou em 1842. Realizou toda a cirurgia geral do seu tempo, adquirindo prestígio e consideração dos seus pares e da sociedade da época. Dedicou-se especialmente à Ginecologia, tendo efectuado em 1884 as primeiras ovariectomias em Portugal, sendo-lhe igualmente atribuídas contribuições pioneiras no tratamento cirúrgico das fístulas vesicovaginais e da litotrícia da mulher.
Homem de acção, privilegiou o trabalho no hospital, que considerava ser a verdadeira escola de formação dos médicos. Também se empenhou na luta contra a mortalidade operatória, seguindo e divulgando as ideias que Semmelweiss ao tempo semeara. Fez repetidas críticas sobre a falta de limpeza e arejamento das enfermarias, censuras que originaram uma portaria assinada pelo ministro do Reino. A repreensão não afrouxou o seu zelo na defesa dos princípios da verdadeira higiene hospitalar.
A faceta de higienista levou-o a intervir no combate à epidemia de cólera que em 1859 assolou a Ilha da Madeira.
O Dr. José Maria Alves Branco teve ainda uma meritória actividade de ensino como Professor de Anatomia na Escola de Belas-Artes e teve relevante intervenção no jornalismo médico, sendo fundador do Correio Médico e colaborador assíduo na Revista Médica Portuguesa, Gazeta Médica do Porto e Archivo Universal.
Eduardo Mota [1879/1881]
O Professor Eduardo Mota, vigésimo presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa foi um ilustre clínico, professor universitário, cirurgião de banco, e grande divulgador da ciência da época, nacional e estrangeira. Nesta última, em particular, salientam-se as suas notáveis colaborações no Jornal da Sociedade com o título de Revista Científica entre 1868 e 1870.
Contemporâneo na Escola Médico-Cirurgica de Lisboa dos Professores Serrano, Sousa Martins e Bombarda, a todos levava a palma, no dizer de Bello Moraes, nos laços afectivos com os alunos e na disponibilidade para com os mesmos na sequência de magistrais lições de clareza e elegância. Serrano e Bombarda mantinham um afastamento, e Sousa Martins, ainda no dizer de Bello Moraes, mal acabada a aula «lépido partia no mourejo da sua clínica».
Em 1870 fez a primeira laqueação da carótida primitiva e a primeira administração hipodérmica de sublimado no tratamento da sífilis.
Não foi um investigador, mas devotou-se ao ensino empenhadamente, publicando valiosas e volumosas obras com largas centenas de páginas que esgotavam os conhecimentos da época em histologia, farmacologia e terapêutica. A obra de Farmacologia e Terapêutica, datada de 1817, teve três edições, sendo a última de 1901. O «Bosquejo histórico da Escola de Medicina de Lisboa» é um documento valioso sobre a evolução do ensino liceal e médico até 1877, apresentado traduzido na Exposição Mundial de Paris.